Tudo porque eu queria tirar fotografias à Lua (uma análise da Lumix DMC-FZ300)

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Não consigo exactamente explicar o que me leva a ter certos impulsos, mas de há uns tempos a esta parte comecei a ficar obcecado com a ideia de tirar boas fotografias à Lua. Qualquer fotógrafo – corrijo: qualquer pessoa com dois dedos de testa, compreende a impossibilidade de, perante uma bela Lua cheia, conseguir tirar uma fotografia de impulso minimamente decente usando um telemóvel. No entanto, e porque começamos a ficar pavlovianamente habituados a sacar do telemóvel quando vemos alguma coisa espectacular (porque TEMOS DE A PARTILHAR COM O MUNDO!!!!), continuamos a manter viva a esperança de que, com a câmara do smartphone, conseguiremos um dia obter uma belíssima imagem da Lua que será a inveja dos nossos seguidores do Facebook. Nunca obtemos. Foi particularmente penoso, por alturas da Super Lua, a quantidade de tristes tentativas, apresentadas nas redes sociais, de capturar a grandiosidade do satélite natural da Terra. Em vão, porque qualquer smartphone, por muito boa que seja a sua câmara (e há alguns que, de facto, têm câmaras bastante razoáveis), apenas transformará a Lua numa bolacha meio desfocada de luz intensa.

Curioso nos assuntos da imagem mas profunda e irremediavelmente leigo, achei que capturar belas e detalhadas fotografias da Lua era coisa reservada aos fotógrafos profissionais. E talvez seja. Mas mantive viva a chama de esperança de que um saloio como eu pudesse, um dia, capturar uma Lua em condições. E publicá-la no Facebook. E dizer com orgulho, batendo no peito, “fui eu que a tirei”.

Foi nessa altura que me chegou às mãos, para teste na secção de análise de gadgets deste estaminé, a Lumix DMC-FZ300.

Tenho com a fotografia profissional e de alta qualidade o tipo de relação que tenho com coisas como a matemática ou a composição musical. Admiro à distância, não sem alguma inveja de quem é perito nessas áreas. Não conheço muitos matemáticos, mas sou amigo de vários músicos. Invejo-lhes a capacidade de dominarem os instrumentos, de escreverem composições numa pauta. Assusta-me o grau de aprendizagem e conhecimento requeridos para atingir resultados dignos. Sobretudo porque tenho quase 45 anos. Lamento nunca ter tido a garra de aprender música quando tinha tempo e disponibilidade mental.

Adoro a profissão que tenho, mas há que admitir que acordar todos os dias às 6 da manhã para apresentar material de cariz humorístico rebenta com a capacidade que um ser humano possa ter para aprender coisas novas que demorem mais do que uma página a serem explicadas. Ou seja: estou a entrar naquela fase da vida de um homem em que ele deixa ad eternum o videogravador com a hora “12:00″ a piscar. Felizmente, hoje em dia já não há videogravadores, para além de que as maquinetas modernas têm uma agradável tendência de se ligarem à Internet, programando a data e a hora sem intervenção humana. Abençoado progresso.

Mas voltemos a este recente modelo da Lumix. É areia demais para a minha camioneta? É. Mas talvez esteja na altura de eu me esforçar para abrir espaço para areia na minha camioneta. Até porque, ainda antes de saber mexer nesta máquina, o incrível estilo que me dá transportar esta menina ao pescoço, merece claramente esse esforço.

Além disso, rapidamente percebi que, pelas suas características, a Lumix FZ300 é a ideal para realizar o meu velho sonho de tirar uma fotografia à Lua. Infelizmente, desde que a tirei da caixa, sedento de testar as suas capacidades ao nível da captação de imagens espectaculares da feiticeira celeste imortalizada pela canção de Jorge Fernando…

… não para de chover.

Felizmente, a Internet é rica em fotografias da Lua captadas com a Lumix FZ300. Eu podia dizer que tinha tirado esta, mas tenho o terrível defeito de não conseguir ser aldrabão. Resta-me deixar-vos a salivar de expectativa pelo dia em que também eu, com a minha FZ300, irei conseguir tirar uma foto tão ou mais bonita que a desta pessoa:

Sim, uma belíssima imagem da esfera espacial de queijo, captada algures numa zona do planeta em que não está a chover pelo feliz possuidor de uma  FZ300. Procurando no YouTube conseguem encontrar-se óptimos tutoriais em vídeo sobre todas as configurações que devem ser levadas a cabo nesta Lumix de modo a obter resultados dignos de emoldurar ou de fazer parte das colecções de wallpapers pirosos de alguns sites.

A Lumix FZ300 é um pequeno tanque de combate – sólida, consistente, e, de acordo com a descrição do fabricante, resistente a pó e salpicos. Decidi não a submeter voluntariamente a quantidades excessivas de pó ou de salpicos – prefiro que aconteçam naturalmente. Mas é uma máquina que emana essa credibilidade profissional  e que, sim, tem uma complexidade ao nível da aprendizagem  bastante superior a uma página. Aprender todas as configurações adequadas a cada situação para dela tirar o melhor partido – seja a tirar fotografias ou a fazer vídeos, tudo isto na desavergonhadamente altíssima definição dos 4K – é tarefa para requerer tempo e dedicação. Dominando este espécime, é possível fazer cinema com a FZ300. Mas requer tempo, e apesar do fabricante a ter dotado de um modo de configurações automáticas, o resultado de fotografar ou filmar com elas não chega aos pés daquilo que se consegue depois de gasto algum tempo a estudar as melhores configurações para cada situação.

A qualidade de imagem é um luxo (zoom 25-600 mm com F2.8 de gama completa), conseguindo registar uma quantidade impressionante de detalhes independentemente da distância a que está do motivo e da velocidade a que se move,  como se vê pelo detalhe deste exemplo:

De novo, não fui eu que tirei a foto a este passaroco. É uma das vicissitudes de se ter uma Lumix FZ300 para testar longe de espécies animais espectaculares ao nível da cor e do chapinhanço em águas cristalinas. Eu amo as espécies animais que há aqui em casa, mas admito que não serão as mais adequadas para demonstrar as capacidades National Geographic desta máquina.

Seja como for, é, sem dúvida, uma máquina aliciante e repleta de promissoras opções, como o Post-Focus. Isto é excelente para mim que sou um pé a conseguir focar imagens decentemente. O que o Post-Focus permite, tal como o nome indica, é que a focagem possa ser melhorada e corrigida depois de tirada a fotografia. É fascinante. É como viajar no tempo – em vez de nos lamentarmos o quão incrível podia ter ficado aquela fotografia, choramingando por termos perdido uma oportunidade que possivelmente não voltará, o Post-Focus permite abraçarmos essa fotografia e corrigir o foco como se tivéssemos de novo o motivo à nossa frente. Sim, roça a feitiçaria. Mas é uma das razões pelas quais a Lumix FZ300 é uma máquina poderosa, adequada a leigos como eu, que queiram entrar no mundo da fotografia mais pipi (isto é linguagem técnica) com a vida facilitada em alguns pontos-chave. O preço ronda os €500, embora haja algumas lojas a vendê-la por menos de €450.

Entretanto, se uma destas noites parar de chover e o céu estiver limpo, avisem. Quero ter a minha própria Lua.

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