Reza o cliché que humor arriscado é o que toca em temas tabu e dispara uma ou outra alarvidade para efeito de choque. Também pode ser, mas tenho cá para mim que isso é muito menos arriscado do que aquilo que a série Baskets, de Zach Galifianakis, Louie C.K. e Jonathan Krisel tem tentado (e, para mim, conseguido) todas as semanas. Sendo que, à partida, não há nada de muito “politicamente incorrecto” nesta história de um aspirante a palhaço (no sentido mais artístico) que estudou numa escola de Paris e que – sem o talento requerido – acaba por pôr em prática na América os parcos ensinamentos que apanhou, nos intervalos de rodeos. Mas desde a coragem de não estar escravo de punchlines, de não virar costas à melancolia e de entregar o papel da mãe do protagonista, uma dona de casa de meia-idade chamada Christine, a um actor (Louie Anderson), que interpreta o papel contornando todos os lugares-comuns do travesti cómico e tornando aquela personagem possível enquanto mulher, Baskets tem-nos no sítio e segue todos os caminhos não recomendados para evitar o cancelamento. Isso vingou: há dias chegou a notícia de que a série foi renovada para uma segunda temporada, o que é maravilhoso.
No episódio mais recente, há um daqueles pedaços de diálogo, tão simples e tão genial, que me obrigou a carregar no botão da pausa, respirar fundo e resmungar impropérios de inveja contra os autores disto.
Christine recebe a visita dos dois filhos gémeos adoptivos, dois DJs, que anunciam à família que têm participado em festivais com os Chemical Brothers. É Christine, a dona de casa a um passo da terceira idade, que dispara, com extrema naturalidade, o comentário mais improvável:
– Chemical Brothers? Esses não são os que já trabalharam com aquele rapper, o Q-Tip?
O que, só por si, é hilariante. Mas mais hilariante é a reviravolta seguinte, quando Christine regressa ao modo dona de casa em pleno:
– Q-Tip é um nome tão querido.
Génio.