Estive quase para chamar a este artigo OLHA O ROBOT mas achei que era demasiado óbvio

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Quem frequenta esta catacumba sabe que eu tenho apreço por engenhocas. Não percebo como funcionam, e adoro que isso seja assim, porque posso manter viva a reserva de esperança de que magia / feitiçaria estejam envolvidas, de alguma forma, no processo. Estou seriamente entusiasmado com as potencialidades da Realidade Virtual (embora tenha de admitir que não há uma pessoa, nem o maior supermodelo do mundo que fique cool com aqueles óculos) e não é um entusiasmo gratuito ou novo-rico: acredito mesmo que, sem que isso signifique a morte do Cinema ou da boa TV, resida ali uma nova e estimulante maneira de contar histórias. Mais do que os jogos, é o potencial da Realidade Virtual para contar histórias que me entusiasma, e tudo indica que realizadores como Ridley Scott já estão a fazer experiências nesse sentido.

Para além disto, tenho, desde miúdo, uma profunda pancada por robots. Apenas na óptica do utilizador; não faço questão de aprender a construir um. Mas fico fascinado ao vê-los já feitos, seja o pequeno robot a pilhas que os meus pais me ofereceram quando fiz 10 anos e que era mais ou menos isto…

… até chegarmos ao recente Atlas, da empresa de robótica Boston Dynamics, pertença da Google.

Atlas é lindo. E tem algo que o distingue de todos estes exemplos de robots da minha vida. Não é nem um brinquedo, nem uma personagem de ficção. A ambição de quem o constrói é, assumidamente, que ele represente o fim do trabalho manual no Planeta Terra. Pelo menos, não mais os músculos do ser humano levantarão um peso.

Está tudo mostrado num vídeo oficial da empresa, onde se vêem outras coisas dignas de nota. Uma delas é a agilidade do Atlas a coordenar, com hesitações quase humanas, a maneira como há-de caminhar em chão irregular para não se esbardalhar no solo. Há quase laivos de personalidade no misto de cuidado e assertividade deste menino a percorrer terreno pedregoso e coberto de neve.

Depois, há demonstrações da capacidade do Atlas em carregar coisas pesadas como se de plumas se tratassem e de arrumá-las em prateleiras. São tudo indícios, algures entre o fascinante e o arrepiante, de que é provável que esta tecnologia tenha vindo para ficar. E, eventualmente, para melhorar a vida de quem tem dinheiro para pagar por ela. Ao mesmo tempo que piora a vida de quem não tem dinheiro para pagar por ela e a quem daria jeito um posto de trabalho a que estes incansáveis e sempre contentes compinchas electrónicos irão deitar as suas metálicas unhas.

Mas as partes mais perturbantes do vídeo são aquelas em que os operadores do Atlas fazem bullying ao robot. Da primeira vez que acontece, é difícil não rir da comédia da situação. Mas depois – talvez isto sejam os anos de admiração aos mais diversos autómatos da cultura popular – tenho de admitir que se torna angustiante. Juro que senti pena daquilo que, na sua essência, é um electrodoméstico glorificado. E quando, por fim, os técnicos lhe dão um empurrão tal, com um varapau, que mandam o desgraçado do robot de cara ao chão, aí foi quando me lembrei de Terminator e da porra que é quando robots se irritam com humanos.

E sim, o Atlas, o mais dignamente possível, ajoelha-se e levanta-se. E segue o seu caminho. Sem rancor, nem fúria.

Mas há qualquer coisa nele, quando segue o seu percurso depois de ser maltratado, que me faz pensar que, lá no fundo dos seus circuitos, o Atlas está a resmungar para com os seus botões:

“Um dia. Um dia, f*%@-s€.”

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