Apesar do “star power”, esta é daquelas comédias que facilmente passa sem que se dê por ela como uma camara oculta. E será pena, porque o novo filme de Noah Baumbach (realizador de A Lula e a Baleia, Greenberg, Frances Ha e co-argumentista de Wes Anderson em Grand Budapest Hotel) é um dos seus mais imediatos e acessíveis sem prescindir, no entanto, dos elevados níveis de sensilibilidade e inteligência a que nos habituou. While We’re Young é um tratado caloroso e divertido sobre os dramas e contradições da meia-idade e também sobre aquilo que somos versus aquilo que gostaríamos de ser ou que os outros pensassem que somos.
Os pivots desta pequena saga pessoal são os excelentíssimos Ben Stiller e Naomi Watts, nos 40 e sem filhos, prezando uma liberdade que, supostamente, têm – mas que parece não resultar em nada de mais estimulante e produtivo do que horas em sofás a usar smartphones, tablets e e-readers. Eles comparam-se favoravelmente a um casal amigo, também nos 40, que parece ter perdido a chama quando teve um filho, embora paire no ar a sensação de que o casal amigo conseguiu dar mais sentido à vida do que eles. Stiller e Watts encontram uma luz de esperança para o sentido da sua própria vida quando ficam amigos de um jovem casal de hipsters – brilhantemente interpretado por Adam Driver e Amanda Seyfried – que os deixa num estranho limbo entre apreciarem o respeito e veneração deles pelos amigos mais velhos (sobretudo porque Stiller é um documentarista e Driver quer ser um) e uma certa vontade de voltarem, nos 40 e tais, até aos 20 e tais. A confusão na cabeça dos quarentões – alimentada pelas primeiras artrites e alguma dificuldade em ver ao perto – é retratada pelo realizador e argumentista com minúcia e, mais do que em qualquer outro filme de Baumbach, com genuíno gosto por comédia pura, coisa de que Stiller percebe alguma coisa.
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Apesar de ser um gajo de meia-idade com um filho – o que me separa da personagem principal – é impossível não me identificar com dezenas de pormenores incómodos que Noah Baumbach espalhou pelo argumento sobre o que significa ter 40 e tal anos, hoje. E é surpreendente como as coisas que são válidas para americanos neuróticos, são válidas para gente que vive do lado de cá do oceano. As piadas sobre a nossa dependência de smartphones e tablets são particularmente certeiras, e o triunfo de While We’re Young está na maravilhosa maneira como faz rir às alfinetadas. Se me revi no stress de Stiller quando fica com dúvidas sobre um assunto e tem de ir imediatamente à procura da resposta no Google ou na Wikipedia? Ah pois. E depois há o momento em que o jovem hipster de Adam Driver sugere, com um sorriso, na sua casa cheia de cassetes VHS e ao pé da sua galinha de estimação, enquanto Stiller procura desesperadamente uma resposta na Internet: “Vamos só ficar sem saber.” Mas será que é ele que tem a resposta para as neuras da civilização?
Sabem onde me senti mais velho, a ver While We’re Young? Ao ver Charles Grodin. Já senti isto quando ele passou a integrar o elenco da genial série Louie. Sempre fui fã de Grodin, e um dos meus filmes de culto é a comédia de acção Midnight Run. Talvez o problema seja o facto de Grodin – ao contrário de contemporâneos seus como Bill Murray – ter estado ausente tanto tempo dos ecrãs, mas custa a crer que ele reapareça agora tão inacreditavelmente idoso. Dei por mim a pensar: “Caramba, o Midnight Run, em que ele era novo, não foi assim há tanto tempo!”.
Só que foi. Em 1988. Há 27 anos. Chiça, penico.
Reflexões sobre a idade à parte (ou incluídas), While We’re Young pode não ser o mais forte dos filmes de Noah Baumbach, mas é uma comédia inteligente e adorável sobre a chatice de envelhecer e a chatice de corresponder às expectativas que se têm de nós. Conseguir fazer rir com assuntos potencialmente tão deprimentes requer arte, e ela existe no filme mais “comercial” do realizador.